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Reitor Antonio Meirelles (ao centro): agenda de assistência à saúde é de interesse de todas as esferas de governo, mas isso é apenas parte de um projeto que pode ser maior

O reitor da Unicamp, professor Antonio José de Almeida Meirelles, disse nesta terça-feira (28), em audiência na Câmara Municipal, que a cidade de Campinas reúne todas as condições para se tornar o principal polo de ciência, tecnologia e inovação do país. O reitor – que participou de uma reunião da Comissão de Ciência e Tecnologia realizada pela manhã na Casa Legislativa – afirmou que a cidade deve participar do esforço nacional de reindustrialização, mas que esse processo tenha como foco justamente os três eixos de desenvolvimento, ciência e tecnologia para gerar inovação em produtos, processos e serviços.

O reitor lembrou que a cidade registra um dos maiores PIBs (Produto Interno Bruto) do país e possui grande concentração de equipamentos científicos e tecnológicos como o CNPEM (Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais) e o Sirius, por exemplo, além de centros de pesquisa e inovação e suas várias universidades.

“Refletindo sobre os desafios que temos para transformar a nossa cidade no maior polo de desenvolvimento científico, tecnológico e de inovação do país, a conclusão é a seguinte: o desafio é articular esse conjunto de atores”, afirma Meirelles. “Esses atores podem ter perspectivas científicas, políticas, ideológicas diferentes, mas, se tiverem compromisso com o desenvolvimento e se a gente for capaz de colocar uma perspectiva social, de inclusão, nesse desenvolvimento, nós encontraremos uma articulação que transformará a nossa cidade e nossa região, sem dúvida, no principal polo de ciência, tecnologia e inovação deste país”, diz o reitor.

“E quem tem de coordenador esse esforço é o universo da política. A Câmara Legislativa, os vereadores, prefeitos, governos municipais da região e os governos estadual e federal. É a esfera da política que pode articular esse conjunto de interesses, que tem conflitos, mas que também tem sobreposições e possibilidades de encontrar pontos de convergência”, acredita. “O nosso desafio é fazer com que isso se transforme também em uma agenda de interesse para a nossa população. Inovação tem de virar uma bandeira popular. Que o povo se identifique com ela”, diz o reitor.

Para Meirelles, a agenda de assistência à saúde é de interesse de todas as esferas de governo, mas isso é apenas parte de um projeto que pode ser maior. “Quando a Unicamp, junto com a prefeitura, vereadores e prefeitos da região, propõe ao governo estadual a construção de um hospital regional – para o qual a Universidade cederia um terreno –,  a nossa preocupação é melhorar substancialmente a qualidade da assistência médica para as populações carentes de Campinas e de toda a região. População que depende do SUS [Sistema Único de Saúde]”, explica o reitor.

“Mas a gente não quer só fazer assistência. A gente quer é que, para o entorno desse complexo de assistência à saúde da região, sejam também atraídas indústrias que produzam equipamentos, que fabriquem fármacos, biofármacos, que prestem consultorias na área médica, empresas de engenharia que pensem na logística hospitalar, na engenharia de construção de equipamentos de saúde, na tecnologia da informação e na inteligência artificial e todo o complexo industrial e de serviços ao redor desse atendimento à população”, explica.

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Debate promovido pela Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara Municipal de Campinas; otimismo em relação ao desenvolvimento e implantação de projetos ligados à C&T na cidade 

Pós-pandemia

Para o reitor, o atual período de pós-pandemia e algumas questões geopolíticas, como a guerra, na Europa, entre a Rússia e a Ucrânia, deixaram clara a necessidade de se criar no Brasil uma indústria interna forte. Segundo ele, a produção industrial já respondeu por um quarto do PIB brasileiro. Hoje essa participação é pouco superior a 11%, diz.

“Nós somos uma economia que está entre as que mais produzem álcool no mundo, mas, no início da pandemia, tivemos dificuldades de oferecer álcool em gel para a população”, argumenta. “E isso é uma coisa difícil de aceitar, ainda mais em um país, como o nosso, que já tem um acúmulo de conhecimento, de ciência e de tecnologia e mesmo de industrialização e de potencial empreendedor”, afirma.

Além do reitor, o debate contou com a presença da secretária municipal de Desenvolvimento Econômico, Adriana Flosi, do reitor da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), Germano Rigacci Junior, do diretor do CNPEM, Antonio José Roque da Silva, do presidente da Informática de Municípios Associados (IMA), Elias Tavares Bezerra, do diretor do Centro de Tecnologia de Informação Renato Archer, Jorge Vicente Lopes da Silva, do presidente do Foro Campinas Inovadora, Eduardo Gurgel do Amaral, e do presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Pesquisa, Ciência e Tecnologia, José Paulo Porsani. A Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara é presidida pelo vereador Gustavo Petta (PCdoB), que organizou o evento.

A secretária municipal de Desenvolvimento Econômico disse estar trabalhando em projetos de ciência, tecnologia e inovação em parceria com institutos, centros de pesquisa e a PUC-Campinas. “Além disso, temos uma parceria muito forte com o HIDS (HUB Internacional de Desenvolvimento Sustentável), que começou na Unicamp, mas que hoje é um projeto de todos nós. É um projeto da cidade”, disse a secretária.

O reitor da PUC-Campinas lembrou que o ecossistema das empresas de tecnologia existente na cidade exige pessoal qualificado e pediu melhor qualidade na formação dos alunos das escolas do ensino fundamental e médio.

O presidente do CNPEM disse que o problema central é a qualidade do emprego no Brasil. “Quando se comparam países que têm um PIB semelhante ao do Estado de São Paulo, como a Suécia e a Bélgica, por exemplo, uma coisa chama a atenção, além da quantidade de empregos formais que eles produzem. Do total das vagas de emprego criadas nesses países, 70% estão na indústria. No Brasil, e no Estado de São Paulo, esses índices estão em torno de 16% a 18%”, argumentou. “Isso significa que não apenas temos um baixo nível de emprego formal, como também temos um baixo nível de empregos ligados à indústria”, constata.

O vereador Gustavo Petta disse estar otimista em relação ao desenvolvimento e implantação de projetos ligados à ciência e tecnologia na cidade. “Eu acredito que, apesar de muita dificuldade ainda por vir, o aspecto político que vivemos neste momento permite maior sintonia entre as diversas esferas de governo em torno de um projeto de desenvolvimento que tenha como um das suas centralidades fundamentais a área da ciência e da tecnologia”, avalia o vereador.


Originalmente publica no Portal da Unicamp

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